
Dias desses eu estava conversando pelo msn com um sujeito o qual não o conhecia, de fato, ele havia me adicionado e estávamos indo bem, tendo uma conversa saudável. Naquela famosa janelinha ao lado da pessoa havia a foto dele, e na respectiva acima a minha também. Era uma foto de rosto, bem de perto. Foi então que no meio da conversa ele me surpreendeu dizendo que meu rosto era lindo, mas perguntou se eu não teria uma foto de corpo inteiro pra ele poder ver como eu era, insistiu em perguntar se eu era magra, qual o número do meu manequim, se eu tinha seios pequenos, como eram minhas pernas, ou seja, havíamos iniciado a conversa com o intuito (pelo menos da minha parte) de nos conhecermos melhor, não de fazer um senso sobre o meu corpo. Ele então disse que não gostava de mulheres gordas, que prefere as magras, de preferência manequim 36. Na hora, eu disse que não tinha fotos de corpo inteiro para enviar pra ele e meio resabiada, poucos minutos depois me despedi da conversa e encerrei o bate papo.
Essa não é a primeira vez que eu converso com alguém pela internet e a pessoa logo me pede pra enviar uma foto de corpo inteiro, de bikini, como se eu fosse um objeto a ser avaliado. Foi então que fiquei pensando e repensando em uma coisa: hoje vivemos somente por uma coisa e pra uma coisa: BELEZA. Não por opção, mas por imposição.
Quando ligamos a TV pra assistir seja lá o que for, lá estão os comerciais, todos com mulheres belíssimas, cabelos lindos, sempre escovados, silhuetas perfeitas, manequim 36 conforme o padrão de beleza que tanto nos é passado. Nos comerciais de cervejas, todas as mulheres são lindas, perfeitas, esculturais, bronzeadas, com uma cintura finíssima, seios lindos, bumbuns perfeitos sem celulite, nada de estrias, e rostos que mais parecem terem sido desenhados de tão perfeitos que são. Daí, começam os programas, excetuando um ou dois, em todos o que vemos são mulheres lindas, magras, altas, de cabelos longos, de peles sedosas, bem trajadas, com as unhas sempre perfeitas, mulheres fabricadas. Quando vamos ao cinema, as atrizes são todas referenciais de beleza e elegância, quando abrimos uma revista, ou vamos a um site qualquer na internet lá estão elas, as belas mulheres da vida.
Mas espere ai, nem só de beleza se fazem as pessoas, nesta semana eu estava com minha mãe e ligamos a TV, depois de muito zapear e nada de bom encontrar, resolvemos assistir ao concurso de Miss Universo, lá estavam elas, aos montes, cada uma representando seu país, vestidas em roupas elegantérimas, desfilando a beleza universal pro mundo inteiro assistir. Enquanto víamos e comentávamos sobre um ou outro vestido, pensei em algo e comentei com minha mãe, nunca vi um concurso pra eleger a mulher mais culta, mais erudita do mundo, nunca vi um concurso pra eleger a que falasse mais idiomas, ou a que tivesse o maior grau de instrução. Só vemos concursos de beleza, de sensualidade. Vivendo em um país tropical como o Brasil, onde dias frios são raros e o calor se faz presente o ano inteiro, a exposição dos corpos é praticamente inevitável, e por isso mesmo, é o país onde há o maior número de concursos que exploram a beleza feminina, é concurso pra eleger o bumbum mais perfeito, os seios mais bonitos, o corpo mais escultural, o bronzeado mais belo, e tantos outros que por ai vão.
Não estou me restringindo apenas a exposição da beleza feminina, mas é que o mundo masculino ainda tem certos tabus onde a exposição demasiada do corpo pode os levar a rótulos que não são bem vistos pelos mesmos. No entanto, ainda assim, também vemos o tempo todo só fotos, imagens de homens que parecem ter sido esculpidos por Deus.
O intrigante é que, no dia a dia, na hora de trabalhar arduamente, onde estas pessoas ficam? Sim, digo isto porque nunca vi essa beleza monocromática que supera a perfeição em uma audiência sentada na cadeira de juíza, em um bar servindo mesas, nas ruas varrendo as calçadas, em faculdades lecionando pra futuros bacharéis, o que estou tentando dizer é que no dia a dia, não nos deparamos na “vida real” com essa beleza impecável sem defeito algum. O mundo gira e quem faz a grande roda girar são pessoas assim, comuns, como eu, como você, pessoas que são naturalmente bonitas, que tem rostos belos, mas tem espinhas, cravos, umas marquinhas de catapora aqui ou ali, que tem estrias no corpo, celulite no bumbum, que nem todos os dias tem tempo nem disposição pra fazer uma escova nos cabelos, que não andam por ai em traje de gala como as Misses, enfim, pessoas que não se matam pra caber em um manequim 36. São pessoas normais, belas e naturais. E quer saber de uma coisa, essa imposição toda já tá mais do que chata, ser perfeito, impecável 24 horas por dia não é coisa simples, é coisa pra louco, passar 3 horas na academia fazendo pilates e musculação e assim achar que a vida já está ganha, ótimo! Se essa é a realidade de uns poucos, a de muitos é totalmente diferente, em regra essas 3 horas é o que se gasta só no trajeto de casa pro trabalho e vive-versa. Quem, sendo trabalhador, sendo um ser comum, com uma profissão normal e essencial pra manutenção da sociedade poderá se dar ao luxo de ficar 3 horas fazendo pilates? Eu não conheço ninguém que possa, porque as pessoas que eu conheço são médicos, advogados, promotores, professores, fisioterapeutas, vendedores, são administardores, são donas de casa, são mães, são estudantes, são pessoas que fazem a roda girar. E a roda gira. Gira porque nós a mantemos girando, enquanto muitos se mantém girando em torno dela.
Eu não uso manequim 36, não tenho tempo pra passar 3 horas em uma academia. Quando me olho no espelho, vejo aqui, ali, imperfeições no meu corpo, não me assusto, sei que são marcas, marcas de que certa vez estrapolei e comi além do que devia, mas saboreei cada delicia, marcas que tive catapora e não resisti e acabei coçando, marcas de espinhas, marcas de arranhões, de celulites, marcas de que sou normal, não sou esculpida, nem tão pouco uma candidata a beleza seja lá do que for. Mas eu sou bela sim, não importa o que a BELEZA IMPOSTA determine. Eu, você, nós somos belos, naturalmente belos, essa de caber só em calça 36....tô fora. Prefiro meu jeans 42, prefiro ser feliz, ser eu mesma, do que ser o estereótipo de uma bela falsidade imposta, se é que você me entende.
Pra Isabella Garcia com muito amor.
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