"Somente a Razão Impede o Homem de Voar"

domingo, 20 de novembro de 2011

APESAR DE TUDO


Hoje eu acordei e pensei no quanto meu coração já sofreu. Quantas vezes meu coração foi ferido por alguns amigos, alguns namorados, por alguns caras por quem me interessei, e principalmente no quanto meu coração já foi ferido por mim mesma. É muito fácil culpar a todos menos a si mesmo, talvez em parte porque cobrar e melhor do que dever, ou porque a redenção pela qual sempre esperamos, imaginamos que virá de outrem, jamais de nós mesmos.
Eu sei que sou uma pessoa complicada, muito sensível, muito exigente com outros e comigo mesma, cobro muito de todos e espero de mim sempre a perfeição. Acho que até aqui, o perfeito nunca foi o suficiente pra mim, eu sempre precisei de mais, precisei ir além.

Neste momento, se alguém me perguntasse quem sou eu, creio que seria difícil pra mim responder. Eu não tenho idéia de quem eu seja, eu sei meu número de identidade, de CPF, o número da minha casa, do meu telefone, do meu registro de ordem, sei quanto calço, quanto visto, quanto peso, eu sei quantos vestidos tenho, com quantos homens já sai, com quantos eu me diverti, por quantos já me apaixonei, acho até que sei quantas vezes eu já chorei nesta vida, e digo isto sem exagero algum. Mas a verdade é que mesmo sabendo tudo isso a meu respeito, o principal eu não sei, eu me negligencio. Eu posso saber tudo, mas jamais saberei o que é importante se eu não souber quem sou eu mesma. Posso conviver bem com o mundo inteiro, mas se eu não me aceitar, não me compreender e acima de tudo, me perdoar por alguns erros que já cometi e por outros que sei que irei cometer ao longo da minha vida, de nada isto irá adiantar.

Viver é uma incógnita, é algo indecifrável, imensurável, inexplicável, sem qualquer sentido ou razão, mesmo porque, quando se tenta viver tomando todas as decisões baseado apenas na razão, a vida segue, mas não é vivida. É como ter um pássaro preso em uma gaiola, você poderá ouvi-lo cantar, saberá que estará ali todos os dias, mas você jamais saberá qual é a sensação de vê-lo voar, de ser livre, de ser um pássaro, você nunca o verá voar pra longe e depois voltar pra cantar somente pra você enquanto o sol se põe, prendendo um pássaro na gaiola, você o está privando de viver, de ser feliz, de ser livre.

Até aqui, eu fui um pássaro na gaiola, passei mais tempo da minha vida programando a minha vida do que a vivendo, passei mais dias me cobrando do que me divertindo, vivi mais dias a me perguntar o porquê de algumas coisas, do que simplesmente seguindo em frente e aceitando que nada é para sempre, que seja bom ou ruim, tudo sempre passará.

Quanto ao meu coração, neste momento, ele está seco, murcho, infeliz, pois, se não sei quem sou, se não perdoo a mim mesma, jamais poderei sorrir com os lábios e com o meu coração. A verdade é que já há algum tempo eu não o sinto pulsar, não sinto que há vida dentro de mim, é como se eu tivesse me tornado meramente mecânica, estável, programável. Eu estou presa a uma pessoa que decidi ser e não sei bem quando eu decidi isto, o que sei é que esta pessoa não é feliz, não sorri, e não sabe por onde seguir.

Então, vejo diante de mim, duas possibilidades: seguir por este caminho tortuoso e fracassado, cheio de certeza, razão e nada de felicidade, mas certa de que honrarei uma escolha feita a anos atrás e que naquele momento me parecia melhor. Ou, mudo a direção, me perco, não me preocupo por saber aonde estou ou para onde vou, mas sim, aproveito cada passo que eu der por este caminho, contemplo as flores que o margeia, aproveito a sombra das árvores, sinto a brisa em meu rosto, e me entrego por completo ao desconhecido, me permitindo ser guiada pela emoção.

Acho que viver é complicado demais pra simplesmente se ter uma regra única do certo e do errado.

Hoje eu percebi, que apesar de tudo, ainda pode existir vida em minha vida.


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