Hoje eu
acordei e pensei no quanto meu coração já sofreu. Quantas vezes meu coração foi
ferido por alguns amigos, alguns namorados, por alguns caras por quem me
interessei, e principalmente no quanto meu coração já foi ferido por mim mesma.
É muito fácil culpar a todos menos a si mesmo, talvez em parte porque cobrar e
melhor do que dever, ou porque a redenção pela qual sempre esperamos,
imaginamos que virá de outrem, jamais de nós mesmos.
Eu sei que sou
uma pessoa complicada, muito sensível, muito exigente com outros e comigo
mesma, cobro muito de todos e espero de mim sempre a perfeição. Acho que até
aqui, o perfeito nunca foi o suficiente pra mim, eu sempre precisei de mais,
precisei ir além.
Neste momento,
se alguém me perguntasse quem sou eu, creio que seria difícil pra mim
responder. Eu não tenho idéia de quem eu seja, eu sei meu número de identidade,
de CPF, o número da minha casa, do meu telefone, do meu registro de ordem, sei
quanto calço, quanto visto, quanto peso, eu sei quantos vestidos tenho, com
quantos homens já sai, com quantos eu me diverti, por quantos já me apaixonei,
acho até que sei quantas vezes eu já chorei nesta vida, e digo isto sem exagero
algum. Mas a verdade é que mesmo sabendo tudo isso a meu respeito, o principal
eu não sei, eu me negligencio. Eu posso saber tudo, mas jamais saberei o que é
importante se eu não souber quem sou eu mesma. Posso conviver bem com o mundo
inteiro, mas se eu não me aceitar, não me compreender e acima de tudo, me
perdoar por alguns erros que já cometi e por outros que sei que irei cometer ao
longo da minha vida, de nada isto irá adiantar.
Viver é uma incógnita,
é algo indecifrável, imensurável, inexplicável, sem qualquer sentido ou razão,
mesmo porque, quando se tenta viver tomando todas as decisões baseado apenas na
razão, a vida segue, mas não é vivida. É como ter um pássaro preso em uma
gaiola, você poderá ouvi-lo cantar, saberá que estará ali todos os dias, mas
você jamais saberá qual é a sensação de vê-lo voar, de ser livre, de ser um
pássaro, você nunca o verá voar pra longe e depois voltar pra cantar somente
pra você enquanto o sol se põe, prendendo um pássaro na gaiola, você o está
privando de viver, de ser feliz, de ser livre.
Até aqui, eu
fui um pássaro na gaiola, passei mais tempo da minha vida programando a minha
vida do que a vivendo, passei mais dias me cobrando do que me divertindo, vivi
mais dias a me perguntar o porquê de algumas coisas, do que simplesmente
seguindo em frente e aceitando que nada é para sempre, que seja bom ou ruim,
tudo sempre passará.
Quanto ao meu
coração, neste momento, ele está seco, murcho, infeliz, pois, se não sei quem
sou, se não perdoo a mim mesma, jamais poderei sorrir com os lábios e com o meu
coração. A verdade é que já há algum tempo eu não o sinto pulsar, não sinto que
há vida dentro de mim, é como se eu tivesse me tornado meramente mecânica,
estável, programável. Eu estou presa a uma pessoa que decidi ser e não sei bem
quando eu decidi isto, o que sei é que esta pessoa não é feliz, não sorri, e
não sabe por onde seguir.
Então, vejo
diante de mim, duas possibilidades: seguir por este caminho tortuoso e
fracassado, cheio de certeza, razão e nada de felicidade, mas certa de que
honrarei uma escolha feita a anos atrás e que naquele momento me parecia
melhor. Ou, mudo a direção, me perco, não me preocupo por saber aonde estou ou
para onde vou, mas sim, aproveito cada passo que eu der por este caminho, contemplo
as flores que o margeia, aproveito a sombra das árvores, sinto a brisa em meu
rosto, e me entrego por completo ao desconhecido, me permitindo ser guiada pela
emoção.
Acho que viver
é complicado demais pra simplesmente se ter uma regra única do certo e do
errado.
Hoje eu
percebi, que apesar de tudo, ainda pode existir vida em minha vida.
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