"Somente a Razão Impede o Homem de Voar"

domingo, 5 de junho de 2011

RIO DE JANEIRO



Oh! Meu Rio . . .
Meu amado Rio de Janeiro,
Cede do calor,
Do pecado capital,
Praias maravilhosas,
Florestas encantadoras,
Em meio ao stress da vida moderna,
Ainda há como descansar . . .
Casas de show luxuosas,
Danceterias deslumbrantes,
Apartamentos magníficos,
Copacabana Palace: “o sonho”,
Tudo é real,
Um mundo perfeito,
Um sonho . . .
Um paraíso . . .
Agora saindo desse mundo encantador,
E indo para o mundo de verdade,
Vemos que existe uma parte,
Onde não se quer enxergar,
Esconder . . .esquecer . . .
É melhor do que tentar resolver,
São 04:30 h da manhã,
Ainda estou cansado,
A noite foi curta,
Não deu para relaxar,
É o calor . . .
É o barulho . . .
É o perigo . . .
É o medo . . .
Eu levanto e me arrumo rápido,
O trem não costuma esperar,
Na estação, a fila de trabalhadores,
Todos humildes, cansados e sonolentos . . .
Indo para seus empregos miseráveis,
Mas mesmo assim,
Contentes por terem um emprego,
Nesse mundo real . . .
Não se convive com os sonhos,
Ser pessimista?
Nunca . . .
Ser realista?
Chega . . . já desistir de viver,
As horas passam rápido,
O trem está lotado,
Somos centenas de almas,
Em apenas um vagão,
__Aperta! Alguém ainda grita:
__Cabe mais um!
Da janela do trem,
Vejo a desgraça passar,
Crianças com fome,
Chorando ao relento,
Pedindo socorro!
Pedindo clemência!
Elas não tem culpa,
São vítimas dessa sociedade capitalista,
Onde a ganância fala mais alto,
O bondoso Deus,
Lá do céu deve olhar,
As lágrimas devem inundar seus bons olhos,
E até quem sabe soluçar,
Ele não fez o mundo para ver isso,
Mas não deu certo,
Como vão entender?
Agora está na minha hora,
O trem acabou de parar,
Aonde?
Central do Brasil,
Eu salto nessa, não posso adiar!
A caminho do trabalho,
Continuo a caminhar,
Vejo mendigos deitados no chão,
O jornal nessas horas,
Serve de colchão,
O papelão: é o melhor cobertor,
Eles não tem esperança . . .
Vivem, por viver . . .
Como pode deles,
O governo se esquecer?
Nessas horas eu agradeço:
__Obrigada meu bom Deus,
A situação é difícil,
Mas eu tenho meu emprego,
Minha casa e meu sustento!
Ando mais a diante,
E vejo um pivete a roubar,
Não é nada de muito valor,
Só um pão para se alimentar,
O dono da padaria,
Um português que fez fortuna no Brasil,
Grita pelo ar:
__ Pega ladrão!
E o pivete, com fome tenta escapar,
Mas o destino na esquina estava,
Esperando para atacar,
Um policial que por um acaso passava,
Saca uma arma e começa a atirar,
E o pobre pivete no chão caiu,
Curiosos à volta,
Me aproximo para ver,
E o corpo no chão estava,
Boiando de sangue,
Com os olhos abertos,
E na mão,
A marca do crime,
Um pedaço de pão,
Que nessa altura,
Estava lavado com sangue,
Que injustiça,
O pão que alimentaria,
Um pacato cidadão,
Vítima do desemprego,
Agora vai apodrecer,
Como o corpo do rapaz,
Seu nome?
__Não importa!
Por dia são dezenas como ele.
Roubam pra matar a fome,
Mas é ela quem acaba por os matar,
Que injustiça!
É o golpe fulminante,
Uma lona preta . . .
Vários curiosos . . .
A polícia tenta conter a população,
Mas não sabe que só causa destruição,
Continuo andando,
Até que finalmente chego,
São 12 horas de trabalho árduo,
A camisa encharcada de suor,
O corpo dolorido . . .
Sim, sou pedreiro,
Trabalho na construção de shopping,
Lojas e prédios comerciais,
Sei que meu trabalho não é valorizado,
Nessa sociedade,
Quem tem valor,
Não é quem ajuda a construir,
Mas sim quem ajuda a consumir,
Não me envergonho do que faço,
Pelo contrário,
Só tenho a agradecer ao meu Senhor,
Posso dizer que trabalho,
Sou mais que vencedor!
Mais um dia vencido,
Entre muitos que virão,
Chega a hora de voltar para a casa,
Se hoje eu vencer,
Serei vitorioso,
Se hoje eu perder,
Serei apenas um homem . . .
Apenas mais uma alma,
No meio de uma multidão,
Que anda sem rumo,
E que não tem direção,
Volto para a estação,
E no caminho,
Mais confusão,
Gente chorando,
Gente sofrendo,
Gente lutando para sobreviver,
Com uma força que não se vê,
Gente que sofre,
Gente que padece,
Gente que daria a vida,
Por um pedaço de pão,
Gente que não perde a esperança,
Pois acredita em um futuro melhor,
Gente que encontra nas próprias lágrimas,
Um motivo para sorrir,
E lutar para sobreviver,
A cada dia que passa,
Vão vivendo . . .
Somando a mais,
Somando a menos,
Gente que é sincera,
Gente que busca um amor verdadeiro,
Gente que quer um mundo sincero,
Gente que luta,
E um dia vence,
Sim,
Um dia vencerão,
Unidas vencerão,
E sobreviverão,
Da janela de um trem lotado,
Observo a vida passar,
Graças a Deus cheguei em casa,
Agora poço descansar,
Sou um cidadão,
E mereço respeito,
Quero uma vida digna,
E um futuro melhor para meus filhos,
Um lugar para morar,
Sem ter que me preocupar,
Com deslizamentos e enchentes,
Falta d’água ou tiroteios,
A favela não é tão ruim,
Não reclamo da vida,
Pois o mal só tende a aumentar,
Só quero um dia dormir,
E poder descansar,
Quem sabe no mundo de sonhos,
Onde o mundo é perfeito,
Onde tudo é tão irreal,
Que não se tem capacidade,
De enxergar o mundo real...
Cede do calor,
Do pecado capital,
Praias maravilhosas,
Florestas encantadoras,
Em meio ao stress da vida moderna,
Ainda há como descansar,
Oh! Meu Rio,
Meu amado Rio de Janeiro . . .

Nenhum comentário: