
Ela era apaixonada por ele a muitos e muitos anos, era uma paixão que havia começado singela na infância enquanto ela apenas o via sair de casa pra escola e quando o encontrava aos domingos pela manhã na igreja, nunca tinha tido muito contato, não eram amigos de brincadeiras, ele sempre foi pra ela como um deus grego para os mortais, algo inexplicável, um ser superior e grandioso devido a sua beleza que conforme os anos passavam e ele crescia, só aumentava, mas ela somente suspirava e deixava perdurar ao longo dos anos essa paixão platônica. Ela havia crescido na mesma rua que ele, eram vizinhos, sabe, há quem diga que não era paixão, era obcessão, outros dizem que era apenas um devaneio infantil que depois se alongou até a juventude, uns favam umas coisas, outros outras, mas o certo mesmo é que o que ela sentia não se sabia ao certo se era mais forte que a morte ou que a vida, mas era maior que as duas.
E assim o tempo passou, até que na adolescência, eles começaram a ter amigos em comum, e como a casa dela vivia cheia de jovens, ele começou a frequentar também os mesmos luagres que ela, inclusive a casa dos pais dela, até que como já se era de esperar, ficaram amigos, não que ela quizesse dele amizade, ela queria dele amor, mas a amizade por enquanto já bastava. E assim foi, ele passava praticamente os finais de semana inteiros na casa dela, ia pra casa somente na hora de dormir, e ela sempre se sentia a pessoa mais feliz do mundo, afinal, o seu amor agora estava mais perto do que nunca, ele as vezes saia de casa, se despedia dos pais e dizia que estava indo pra faculdade, mas na verdade, mal fechava o portão de casa, e corria pra casa dos pais dela, os dois conversavam, jagavam no computador, ela o ajudava com os exercíos da faculdade dele, e ele sempre falava com ela sobre seus sonhos e planos pro futuro. Nunca tinha em nenhum deles espaço pra ela, mas ela dava sempre um jeito de criar uma ilusão e se ver junto a ele, ela vivia se alimentando das migalhas da atenção dele, isso era bom, isso já bastava. Pra ela, isso já tinha sido um longo passo, em meio a caminhada longa que ela percorreu durante toda infância acreditando um dia chegar até o coração dele, era um passo, mas estava longe de ser o que a levaria até onde seus sonhos almejavam.
De repente, ela cada vez se apaixonava mais e mais, e ele, aos poucos começou a notá-la de forma diferente, parecia mais tenso, nersovo, sem graça ao lado dela, parecia se sentir deconfortável, coisa que antes era super normal. Quando ele ia falar com ela antes era tão simples, agora gaguejava, perdia a atenção ouvindo ela falar porque não conseguia notar outra coisa que não fossem os os belos olhos negros dela, que brilhavam de forma incomum como ele jamais havia visto... mal sabia ele que o brilho nos olhos dela, era reflexo de toda paixão que ela sentia por ele, era fruto da alegria por ele estar ali, sentado ao lado dela, conversando, ouvindo-a, alegria por ele estar tão perto agora, perto como ela sempre sonhou. Aos poucos, ele mudou, passou a lhe convidar pra irem juntos a igreja, parava na rua e passava horas e horas conversando, pedindo dentro dele pra que os segundos se arrastassem ao máxmo pra que aqueles momentos com ela se tornassem eternos, ele descobriu que a amava, que estava apaixonado. E agora? Como iria fazer? Como ele iria dizer isso a ela? Será que ela iria dizer que sentia o mesmo? Será que ela o notava como um rapaz, e não como um garoto que cresceu na casa ao lado? O coração dele se encheu de insegurança, e o pior de tudo é que o coração é traiçoeiro, nos engana, nos fere, nos faz sentir dor, dor na alma. O tempo passou brevemente, e quem ama sabe que é assim, por mais que queira que o tempo se arraste, parece que uma semana passa em um dia. "Coisas da paixão".
Mas nem tudo são flores pelo caminho...quem dera fossem.
Uma tarde, enquanto ele se arrumava pra ir a faculdade, ela o esperou no portão da casa dele pra falar algo, mas ele com pressa, meio que se arrumando, ajustando a roupa no corpo, não deu muito atenção a ela, que parecia segurar-se, tentar conter a ansiedade, ele notou algo de estranho, mas como tinha uma prova importante, não podia arriscar-se a chegar atrasado. Educadamente pediu desculpas a ela, e disse que assim que chegasse da faculdade passaria antes na casa dela para que os dois conversassem. E assim foi. Aquelas horas foram amargas, duras, as piores que ela já havia esparado, mas foi necessário. Ela estava cada vez mais anciosa, trêmula, inquieta, agitada, sentia um turbilhão de coisas ao mesmo tempo, sentia que daquela noite não poderia passar sem dizer a ele tudo o que sentia. Queria também contar que havia recebido o resultado e que havia passado no vestibular. Ela tinha muito pra dizer a ele, e o esperou até que ele finalmente chegou, com uma aparência cansada, mas parecia ancioso pra saber o que ela tinha pra dizê-lo. Os dois sentaram-se a mesa do jardim da casa dela e começaram a conversar, ela que sempre tinha tanto a dizer, não conseguia encontrar as palavras certas pra conseguir chegar ao ponto em que queria. Primeiro contou sobre a faculdade, depois sobre os planos que já tinha feito, até que ao passar da hora, ele se levantou e disse que precisava ir, ela amargou um choro em sua boca, triste por se sentir tão covarde por não dizer a ele naquele momento, o que havia esperado mais de 10 anos pra dizer. Foi quando então, já no portão ao se despedirem, ele a beijou no rosto. Naquele instante, ela sentiu tudo o que se sente quando se ama ao mesmo tempo. Havia sido apenas um beijo no rosto, mas pra ela, havia sido o beijo no rosto. Ela então, excitada e extasiada pela sensação ali vivida, segurou nas mãos dele e disse olhando nos olhos castanhos dele que o que ela realmente tinha pra dizer não era nada corelacionado com faculdade, ou planos pro futuro, o que ela precisava dizer é que o amava, que sempre o amou, que o desejava ardemente, e que havia percebido nos últimos tempos que sem ele, ela não poderia viver jamais. Ele, ao ouvir tudo o que ela disse, se esquivou, a olhou nos olhos, soltou as mãos dela e saiu calado, não disse se quer uma palavra. Ele nunca pensou que ela, pudesse chegar pra ele e ter coragem de dizer assim, na cara, que o amava, pois ele julgava que ela não sentia nada por ele além de amizade e somente amizade. Triste ilusão, ela o amava, e ele percebeu que a amava também. Mas como poderia fazer pra dizer que sentia o mesmo por ela? Que palavras usaria. Ele seguiu calado, sem pronunciar se quer uma palavra até a casa dele, entrou em seu quarto e começou a pensar. Naquela noite ele não dormiu, ficou acordado o tempo todo pensando, refletindo, revendo em sua mente cenas dos dois juntos, achou que finalmente esta poderia ser a deicha pra que fossem felizes, pra que pudessem se amar declaradamente, ele pensou e pensou e pensou mais ainda e quando deu por si, a luz do sol invadia o quarto pelas frestas da janela. Ele levantou, vestiu a primiera roupa que encontrou pela frente e foi correndo até a acasa dela pra conversar, pra dizer a ela que sim, que sentia o mesmo.
No entanto....nada é fácil quando o assunto é amor. O amor parece que emburrece, que cega, que faz perder a audição e o raciocínio, no amor tudo é limitrofe, um simples gesto faz sorrir, um simples gesto faz chorar e temer por tudo, ou por fim a tudo.
Ela, que sempre esperou que chegaria um dia em que teria coragem de dizer a ele que o amava, mal pode conter o choro durante toda noite, pois não podia crer que ao contar a ele que o amava, ele agiria daquela forma tão rude, tão seca, tão frívola. Naquele momento ela teve a certeza de que ele não a amava, e de que todos estes anos ela havia amargado uma doce e triste ilusão. E agora, como doia em seu peito, como sua alma gemia. Mas depois de uma noite inteira de choro, ao ver a luz do dia entrar pelo quarto, jurou pra sí mesma que jamais choraria novamente por ele, se levantou, foi até o banheiro, tomou uma ducha bem fria e enquanto a água gelada escorria pelo corpo, pensou em várias coisas, mas a primiara que decidiu fazer é comunicar aos pais que iria mudar de cidade, que iria estudar em uma faculdade bem longe. A principio devido a decisão ter sido muito repentina, tomou de surpresa seus pais, que acharam muito dificil deixar uma moça ir estudar longe e ainda por cima morar sozinha, mas como viram que ela queria muito e que seria pro bem dela, acabaram por consentir. Ela então voltou ao quarto, pegou o telefone e ligou para uma amiga que também iria pra faculdade e as duas combinaram de procurarem apartamentos pra se mudarem pra lá. Tudo muito rápido, tudo muito repentino.
Foi então que ele apereceu em seu portão, meio eufórico, meio nervoso, não sabia ao certo que palavras usar, mas queria muito dizer a ela tudo o que havia pensado durante a noite.
Mas, quando ele tocou a campanhia, nada mais era como antes...
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