PELA PRIMEIRA VEZ

Foi quando então eu olhei para frente e meus olhos o viram pela primeira vez. Aquele instante foi como um momento de redenção pra minha alma doente e sofrida, meus olhos que estavam cansados de tanto chorar, meu espírito fraco e sem vida sorriu ao vê-lo parado do outro lado da rua. Eu não sabia seu nome, nem de onde era ou qual era a sua história, mas isso não importava, meus pés caminharam até ali com o propósito de buscar o fim para o que muitos chamam de vida, mas que pra mim não fazia sentido algum, sempre fui um ser solitário vagando por um mudo desconhecido enfrentando o frio e a dor que sempre estiveram diante de mim. Mas isso foi até ali, naquele breve e único instante. Eu que achei que seria um dia perfeito para morrer, esqueci de tudo que havia vivido até ali, e quase que instantaneamente me deixei levar pelo desejo que ardeu em meu peito.
A vida se contradisse em um breve lampejo de felicidade que meus olhos gozaram ao vê-lo ali.

Eu não desviei meu olhar nem mesmo por um segundo, nada justifica o que aconteceu, nada explica o que eu senti, de certo não há uma língua no mundo que contenha uma palavra exata para definir.

Eu me deixei seduzir, me deixei encantar pela beleza de um desconhecido que estava bem a minha frente do outro lado da rua. Aquele instante durou menos dois minutos pra todos que aguardavam o sinal abrir, no entanto para mim, pobre mortal enfenecida pelo ardor de toda uma existência inútil e sem sentido, aqueles dois minutos foram minha eternidade, aqueles instantes mesmo que breve abriram os portais do céu e me conduziram ao paraíso, eu estava ali, viva e naquele instante toda minha vida passou diante de mim e mesmo que até este instante nada tivesse valido a pena, posso dizer com toda alegria inexplicável que inundou meu ser que ali, bem ali tudo fez sentido, ganhou cor, vida, sabor, eu ouvi música, a mais bela sinfonia, a mais linda poesia, meus olhos se abriram naquele instante, naquele breve instante em que eu o vi e que então passei a existir.