"Somente a Razão Impede o Homem de Voar"

domingo, 8 de janeiro de 2012

AMOR PERFEITO



               Eu amo um homem. Ele não mora na mesma cidade que eu, na verdade, ele não mora nem no mesmo Estado.  A distância geográfica poderia ser o maior dos empecilhos pra que nós tivéssemos uma relação amorosa, mas toda vez que nos aproximamos, percebo que a distância é o menor dos detalhes.
            Somos diferentes em muitos aspectos, eu falo muito, sou muita afoita, sou desesperadamente controladora e sensível, vou do riso ao pranto em um piscar de olhos, sou intensa, vivo cada segundo como se fosse o último, me permito tudo o que quero, pois, prefiro viver assim, a me arrepender quando estiver com o cansaço da idade sobre meu corpo e me culpar por não ter vivido o que eu queria. Eu sou destemida, um tanto impulsiva, em certas horas, não ouso pensar nas conseqüências, ajo por mero instinto.
            Já ele... é completamente diferente, ele sempre me pareceu calmo, um tanto reservado, eu diria que é medroso ou talvez a melhor definição seja cauteloso, ele é sensível também, é talentoso, amoroso, quando o conheci, o achei muito divertido, ele me fazia rir, e eu me sentia segura assim. Ele é um homem de poucas palavras, nunca fala muito, procura resumir o que quer dizer em duas linhas, é completamente pragmático. Ele é completamente intimista, gosta da chuva, gosta de andar pelas ruas da cidade onde vive enquanto chove, e depois, fotografa a cidade vista das poças que se formam com a água da chuva. Isso é inenarrável, afinal, quantas pessoas passam pelas poças de água da chuva e tudo o que fazem é queixar-se do incomodo que elas são, mas ele, com toda sensibilidade que tem em si, vê beleza, vê arte, ele vê a cidade nos reflexos da água, isso é fabuloso. Ele gosta de cães, detesta fumantes, mulheres com muita maquiagem, e não gosta de críticas, certa vez disse que um conto que ele escreveu não estava bom, e pude notar o quanto que ele se desagradou com meu comentário. Eu poderia passar o dia a falar sobre como ele é, mas ainda assim não definiria com a mais perfeita exatidão tudo o que vejo e sinto nele que me faz querer estar perto, sentindo o calor do corpo, o toque das mãos, o sabor do suor dele, os carinhos dele, qualquer elogio que se faça a ele, certamente é um mero eufemismo. E o maior detalhe que não poderia deixar de ser dito, ele é o home mais lindo que eu já vi.
            Por um tempo, eu tentei esquecê-lo, tentei conhecer outros homens que fossem tão inteligentes, divertidos ou cultos como ele. Mas todas as minhas tentativas foram fadadas ao fracasso, ninguém é como ele, e jamais será.
            Mas a questão é que cada vez mais, a cada dia que passa, parece que nunca iremos ficar juntos, embora esta seja a maior  vontade da minha vida, mas não, nada contribui pra que nossos caminhos se cruzem. Os homens têm medo da palavra amor, acham que gera a implicação de compromisso, mas eu não saberia que outra palavra usar pra definir o que sinto por ele, porque eu sei, no meu coração, que o que sinto é amor, nunca alguém morou dentro de mim por tanto tempo o quanto ele.
            Hoje, eu li uma história que me fascinou, a historia da origem das tulipas vermelhas. Tulipas, sempre foram minhas flores favoritas, são belas, graciosas, têm um charme, uma elegância, e ao meu ver, são muito românticas. E diz a tal história que uma lenda turca pode ser responsável pelo simbolismo da tulipa vermelha.

A história conta que um príncipe chamado Farhad estava apaixonado por uma moça chamada Shirin. Quando Farhad soube que Shirin tinha sido morta, ele estava tão triste que se matou ao andar a cavalo ao longo da borda de um precipício. Diz-se que uma tulipa vermelha surgiu a partir de cada gota de seu sangue, dando a tulipa vermelha o significado de “amor perfeito”.

Então eu comecei a refletir sobre a questão do “amor perfeito”, ora, Farhad amava Shirin, mas diante da morte de seu amor, não resistiu a dor e se suicidou. Para os mais céticos e ortodoxos, a atitude dele é totalmente condenável, mesmo porque o amor só seria perfeito se eles  ficassem “juntos para sempre”, mas o fato é que o amor perfeito não precisa ser vivido pra sempre, ser vivido da maneira tradicional, ser como um filme qualquer da Katherine Heigel onde ela nunca termina sozinha e sempre termina o filme com um beijo marcante no mocinho da história.

Depois que o conheci, minha vida nunca mais foi a mesma, mesmo longe, mesmo que incerto, mesmo que tão displicente comigo, o fato é que ele mudou minha vida. Aprendi muito com ele, aprendi a ser mais calma, aprendi que não importa o problema, ele vai passar, aprendi a ver beleza na cidade onde moro, a notar detalhes, a ver o reflexo dos prédios nas janelas dos outros prédios, aprendi que fotografia é também uma arte, aprendi principalmente que neste mundo, enquanto estamos vivos não existe 'adeus'. O meu amor por ele foi perfeito, é perfeito. Ainda que não fiquemos juntos ao final de nossas vidas como em um filme de romance, ainda que a distância insista em sempre nos separar, ainda que eu nunca tenha o prazer de acordar ao lado dele todas as manhãs e olhar em seus olhos e ter a certeza de que será pra sempre, ainda assim, eu vivo um amor perfeito.

E não importa o quão tolo isto possa parecer, não importa quantas vezes eu ouça que isso é loucura, ou perda de tempo, quando amamos, nada é em vão, o amor por si só sempre será perfeito. Eu o amo, e pra mim, isso é perfeito.


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