Há alguns anos eu conheci um homem, e eu me apaixonei, ou
melhor, nós nos apaixonamos um pelo outro. Tudo o que faltava nele, eu tinha, e
tudo que faltava em mim eu encontrava nele, parecia que cada espaço do meu
corpo foi feito pra encaixar no dele, eu me sentia segura entre os braços dele,
aos poucos, nos tornamos mais que amantes, nos tornamos amigos. E isso era
ótimo, ter com quem conversar, com quem dividir minha vida, fazer planos,
sonhar, viver.
Mas ele não era brasileiro, e ainda por cima morava em outro
Estado, viaja sempre pro país de origem,
e nestes hiatos, eu me sentia triste, sozinha, ainda que nos escrevêssemos 10
vezes por dia, nunca era o suficiente, eu queria estar junto, eu queria que a
distância fosse algo transponível.
Ele nunca tinha vindo ao Rio, e certa vez me disse:
"Você poderia ser meus olhos, poderia fotografar a cidade que tanto ama
pra que eu possa vê-la através da sua paixão". Pronto, bastou isso, e eu
comprei uma câmera, fiz um cursinho destes bem curtos, e comecei a fotografar,
e aos poucos, deixou de ser só casualmente, eu podia sair de casa e esquecer as
chaves, mas a câmera jamais. Eu mostrava pra ele coisas do meu dia a dia, os
lugares por onde eu andava, os amigos que eu tenho, o trabalho que eu tinha, eu
mostrava a minha vida, e assim, até ficava mais "suportável" aguentar
a distância.
Aos poucos, passamos a nos ver com menos frequência, ele
cada vez mais longe, e eu, nem sempre podia ir até onde ele estava, e assim algo
foi murchando, perdendo a cor, o sabor, a alegria, meu sorriso sumiu... percebi
nesta época que havíamos nos tornado grandes amigos, e no meio disto, havíamos
perdido a paixão que nos incendiava no inicio.
E assim, o tempo passou...
Há duas semanas ele veio ao Rio, quando nos encontramos, foi
como encontrar um amigo, não um amor. Passamos ótimos dias juntos, mas não
havia mais aquele brilho em nossos olhares, aquela garganta seca, aquela
vontade de se agarrar o tempo todo, estas coisas que fazemos quando estamos
envoltos em uma paixão.
O nosso amor acabou... eu não sei quando, nem porque, não
posso culpar só a distância, nem ao desgaste, porque dizem que o amor resiste a
tudo, e o nosso deveria ter resistido também. Não sei se foi ele ou se foi
eu... mas o fato é que acabou. E agora, toda vez que olho pra câmera, toda vez
que tiro uma foto, que leio Proust, que ouço Milles Davis, que assisto 2 and
1/2 man, que vejo uma xilogravura, ou melhor, toda vez que respiro, sinto um
vazio... falta ele aqui dentro de mim. E justo agora tem tanta coisa nova
acontecendo na minha vida, tanta coisa boa pela qual eu lutei e que eu queria
tanto compartilhar com ele... eu sinto que nada disso tem valor, porque ele não
estará aqui, ele nem saberá o que está acontecendo... eu tentei de tudo, mas as
vezes me pergunto se meu 'tudo' foi mesmo suficiente, quem sabe se eu tivesse
tentando mais um pouco ele ainda estaria aqui...
Hoje eu vejo o quanto é triste quando o amor acaba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário