Então, a história é a seguinte:
Era quarta-feira, 15:30 da tarde, o sol estava matando,
a pele parecia que estava fritando, qualquer sombra valia mais do que ouro. Eis
que alguém jogou algumas coisas fora, dentre elas um colchão furado, velho,
encardido, já muito gasto. A pessoa colocou na calçada pra que o caminhão da
coleta de lixo levasse embora, mas um cara que mora nas ruas, parou, olhou, e
ele não viu um colchão velho, ele viu algo que a anos, muitos anos ele se quer
sonharia em ter, ele nem se lembrava qual foi a última vez na vida em que se
deitou sob um colchão e dormiu, seus olhos brilharam, parecia que havia
encontrado um tesouro.
Ele, afoito e com
pressa que alguém visse o tesouro antes dele, correu e pegou para si. Pronto,
agora ele tinha um colchão. Pela rosto dele, dava pra notar a ansiedade em se
deitar sob ele e dormir, 'dormir pro dia nascer feliz', não, neste caso, o dia
dele já estava feliz, completo, realizado.
Ele procurou um lugar
com sombra, mas às 15:30 de uma tarde ensolarada em pleno verão no Rio de
Janeiro, sombra era artigo de luxo, mas atravessando a rua, achou umas árvores,
entre um galho e outro, tinha alguma sombra. Ele então tirou seus chinelos dos
pés, ajoelhou-se no chão ao lado do colchão, fez uma prece, depois o sinal da
cruz, usou sua mochila velha e suja como travesseiro e se deitou. O homem cujo
nome não sei, e talvez nunca venha a saber, se deitou, e não sei se era o
cansaço ou a alegria de finalmente deitar em um colchão após longos anos sem
isso, mas o que me surpreendeu é que em menos de 2 minutos, lá estava ele,
adormecido, ainda que raios do sol forte insistissem em bater em seu rosto. E
ali, em meio ao barulho do Centro da cidade, em meio a agitação dos que
passavam indo e vindo, em meio ao calor, ao sol, ao mato próximo ao colchão, em
meio a tantas adversidades, aquele homem dormiu, e eu creio que aquele foi o
sono mais feliz que eu já vi alguém desfrutar. Morpheus o envolveu entre seus
braços, e o fez adormecer rapidamente.
Esta história aconteceu nesta quarta-feira, 25 de
janeiro de 2012, eu estava em um bar quando presenciei tudo que narrei, e
depois de vê-lo adormecer, não me contive e tirei uma foto, não para fazer
chacota ou pra exibí-la mediocremente por ai, mas eu fiz questão de ir até lá e
fotografar a cena, porque ainda que meu cérebro um dia esqueça, meus olhos ao
ver se lembrarão desta história, e assim eu sempre vou recordar que um dia, eu
vi um homem feliz por poder dormir em um colchão sujo e velho, um dia eu vi um
homem com a aparência franzina, desnutrida, sujo, com roupas rasgadas e aparentemente
faminto, não blasfemar contra Deus, mas sim mostrar intimidade e gratidão para
com Ele, e agradecê-lo em uma prece.
Eu sempre quero me lembrar que um dia eu vi um homem que
não tinha nada, nem aonde dormir, o que vestir, comer, que não tinha nem ao
menos um colchão, mas o que é mais importante nesta vida ele tinha: FÉ e TEMOR
A DEUS.
E eu, que já a muito tempo não falava 'oi' com Deus, me
lembrei do quanto é bom ter intimidade com Ele. Aquele homem na rua, me trouxe
de volta a fé, a esperança, e isso me valeu pra vida toda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário