"Somente a Razão Impede o Homem de Voar"

sábado, 28 de janeiro de 2012

Então, a história é a seguinte:

 
Era quarta-feira, 15:30 da tarde, o sol estava matando, a pele parecia que estava fritando, qualquer sombra valia mais do que ouro. Eis que alguém jogou algumas coisas fora, dentre elas um colchão furado, velho, encardido, já muito gasto. A pessoa colocou na calçada pra que o caminhão da coleta de lixo levasse embora, mas um cara que mora nas ruas, parou, olhou, e ele não viu um colchão velho, ele viu algo que a anos, muitos anos ele se quer sonharia em ter, ele nem se lembrava qual foi a última vez na vida em que se deitou sob um colchão e dormiu, seus olhos brilharam, parecia que havia encontrado um tesouro.
Ele, afoito e com pressa que alguém visse o tesouro antes dele, correu e pegou para si. Pronto, agora ele tinha um colchão. Pela rosto dele, dava pra notar a ansiedade em se deitar sob ele e dormir, 'dormir pro dia nascer feliz', não, neste caso, o dia dele já estava feliz, completo, realizado.

Ele procurou um lugar com sombra, mas às 15:30 de uma tarde ensolarada em pleno verão no Rio de Janeiro, sombra era artigo de luxo, mas atravessando a rua, achou umas árvores, entre um galho e outro, tinha alguma sombra. Ele então tirou seus chinelos dos pés, ajoelhou-se no chão ao lado do colchão, fez uma prece, depois o sinal da cruz, usou sua mochila velha e suja como travesseiro e se deitou. O homem cujo nome não sei, e talvez nunca venha a saber, se deitou, e não sei se era o cansaço ou a alegria de finalmente deitar em um colchão após longos anos sem isso, mas o que me surpreendeu é que em menos de 2 minutos, lá estava ele, adormecido, ainda que raios do sol forte insistissem em bater em seu rosto. E ali, em meio ao barulho do Centro da cidade, em meio a agitação dos que passavam indo e vindo, em meio ao calor, ao sol, ao mato próximo ao colchão, em meio a tantas adversidades, aquele homem dormiu, e eu creio que aquele foi o sono mais feliz que eu já vi alguém desfrutar. Morpheus o envolveu entre seus braços, e o fez adormecer rapidamente.

Esta história aconteceu nesta quarta-feira, 25 de janeiro de 2012, eu estava em um bar quando presenciei tudo que narrei, e depois de vê-lo adormecer, não me contive e tirei uma foto, não para fazer chacota ou pra exibí-la mediocremente por ai, mas eu fiz questão de ir até lá e fotografar a cena, porque ainda que meu cérebro um dia esqueça, meus olhos ao ver se lembrarão desta história, e assim eu sempre vou recordar que um dia, eu vi um homem feliz por poder dormir em um colchão sujo e velho, um dia eu vi um homem com a aparência franzina, desnutrida, sujo, com roupas rasgadas e aparentemente faminto, não blasfemar contra Deus, mas sim mostrar intimidade e gratidão para com Ele, e agradecê-lo em uma prece.
Eu sempre quero me lembrar que um dia eu vi um homem que não tinha nada, nem aonde dormir, o que vestir, comer, que não tinha nem ao menos um colchão, mas o que é mais importante nesta vida ele tinha: FÉ e TEMOR A DEUS.

E eu, que já a muito tempo não falava 'oi' com Deus, me lembrei do quanto é bom ter intimidade com Ele. Aquele homem na rua, me trouxe de volta a fé, a esperança, e isso me valeu pra vida toda.

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